terça-feira, 17 de junho de 2014

Eugénio de Andrade (1923 - 2005)



São como cristal
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas inocentes,
leves.
Tecidas são luz
e são noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem 
recolhe, assim
crúeis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

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