HORIZONTE
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoreados.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e mistério,
Abria em flor o longe, e o sal sidério
Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa de longínqua costa-
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há ave, flores.
Onde era só, de longe e abstrata linha.
O sonho é ver as formas invisiveis
Da distancia imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
Os beijos merecidos da verdade.
Fernando Pessoa
Portugal
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